Lançamento do cd, "em casa", na Festa do Vale do Ser, em 21 de novembro de 2009
Este disco é dedicado a Remy e Zely d’Ávila (in memorian), à Nésia Prompt, ao compositor Sidnei Aguiar e ao maestro José Pedro Boéssio (in memorian)
AO VIVO, ENTRE AMIGOS resgata a música e a memória de Nando d´Ávila, compositor, músico, jornalista e ecologista gaúcho, falecido em 1999, aos 45 anos. O cd foi produzido por amigos do Vale do Ser – Desenvolvimento Humano, Arte e Cultura e reproduzido através da Secretaria
Municipal de Cultura de São Leopoldo, cidade onde Nando nasceu e viveu por cerca de 30 anos.
É um disco íntimo, que revela o artista em sua própria morada. Nando gostava da qualidade das coisas feitas em casa. Ele apreciava as noitadas musicais ao lado do fogão à lenha e os longos cafés da manhã. Nas conversas no jardim e nos passeios com as crianças, costumava tirar do bolso uma antiga lente de aumento. Com ela, era possível desvendar detalhes das folhas secas ou das asas de uma borboleta.
Além das histórias que gostava de contar, este cd reúne 11 músicas próprias, quatro parcerias, uma versão e uma canção de autoria de Sidnei de Aguiar, o parceiro-compositor mais admirado por Nando. As gravações originais foram feitas em seu próprio quarto, em 1987, 1989 e 1993, através de um bom e antigo aparelho Polivox. Nando e Sidnei têm cerca de 15 fitas gravadas em parceria.
A forte musicalidade de Nando já se revelou aos 12 anos, quando ele iniciou o estudo de violão. Essa foi uma saída criativa para um menino moleque, que, ainda bebê, foi atingido pela poliomelite. O compositor nasceu em seguida, aos 16 anos, com Por Meio das Contas. Aos 18,
Nando já tinha feito uma de suas músicas mais conhecidas: Sete Povos.
Os tempos difíceis da ditadura militar na América Latina tiveram como contraponto – especialmente no Brasil - a energia rebelde dos anos 70. Nando absorveu tanto a leveza inovadora da Tropicália, em Caetano, Gil e Gal, quanto os cantos revolucionários de Chico, de Mercedes e de Violeta Parra. Como resultado de tal mistura, compôs verdadeiros primores.
Já em 1978, o seu nome despontava entre os seis melhores novos compositores gaúchos, apresentados no histórico disco Paralelo 30, produzido por Juarez Fonseca. Foi um tempo de muitos shows e de turnês. Porém, cerca de seis anos depois, Nando já não queria mais a roda-viva dos teatros e dos bares, nem mesmo a disputa por espaços em rádios e a cansativa busca por gravadoras no centro do País. A sua música agora seria feita e tocada “para os de casa” e ele se dedicaria mais ao jornalismo.
Poucos anos depois, Nando decidiu viver em meio à natureza, “em uma casinha branca, cercada de laranjeiras e de jabuticabeiras”. Era assim que descrevia sua morada no Travessão, no pé da serra gaúcha, em Ivoti. Foram tempos de plenitude e de criação, quando uma nova musicalidade se revelou em suas composições: agora era um canto de pura celebração à Natureza, à vida e à amizade.
Doze anos se passaram até que, de repente, a sua vida foi interrompida por um câncer linfático avassalador. Até o último momento, Nando estava certo de que venceria a doença, voltaria a tocar e a escrever livros. Mas... antes de tudo, dizia ele, desceria as cachoeiras do Vale do Ser, levando consigo a sua infalível lente de aumento.
A morte chegou às 7h da manhã, em 27 de maio de 1999. Até o final do ano seguinte, a sua música continuava sendo cantada nas praças e nos
teatros da Grande Porto Alegre. Era o maestro José Pedro Boéssio, que, com seus arranjos para orquestra e coro, difundia e destacava a obra de Nando e de Sidnei. Porém, também ele, o nosso generoso maestro, partiu de modo abrupto, em
28 de janeiro de 2001, em um acidente de trânsito.
Por toda essa história e, especialmente, pelo registro de sua obra em cd, a oportunidade de ouvirmos hoje a voz e a música de Nando d´Ávila é “ um alento em noite alta”. A fineza, a
humanidade e o viço de suas canções são “um par de asas” para quem busca retornar – mesmo que por um único instante - ao primado da delicadeza
humana.
Ao vivo, entre amigos é um resgate, mas é também uma homenagem ao Nando e ao seu maestro. É o fim do silêncio. É pura celebração! É pura gratidão!
Associação Vale do Ser
Desenvolvimento Humano, Arte e Cultura
Outono de 2009
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